Tarot de junho e sugestões de livro, canção e filme para este mês.
Que este mês nos traga diálogos honestos, pensamentos críticos e relações e ações comprometidas com a transformação coletiva.
Bem-vindes a meio de junho.
Eu ia dizer “Feliz meio de junho” mas, tendo em conta o que se passa no mundo pareceu-me desajustado. Mas espero que, ainda assim, nas vidas privadas e pessoais vão encontrando a força e a resistência necessárias para navegar as águas turvas destes tempos.
Este mês utilizei um deck que quando o comprei me pareceu retratar um futuro hipotético, como uma espécie de horizonte que define os limites do possível. Imaginei que este era precisamente o futuro a que não chegaríamos e que ele estava aqui representado, precisamente, para que a ele nunca chegássemos. Parece que alcançámos o horizonte. Mas, pensando bem, este baralho continua a oferecer-nos possibilidades de futuros alternativos, basta atentar no seu título: “Next World Tarot”. Um novo mundo para além dos escombros, ou nos escombros, onde a comunidade, o ativismo, a empatia e a diversidade reinam e criam realidades de resistência e transformação. Não acredito que possa ser de outra forma a não ser com união e compaixão.
Então, num mês em que assistimos a uma escalada de violência em diferentes frentes, também vemos e, espero eu, fazemos parte de vozes e corpos que se manifestam, que se opõem, que se indignam e que não aceitam genocídios, discursos e ações de ódio, abusos de poder e manifestações autoritárias. E, ao fazer a tiragem deste mês, acabei com um sorriso na cara.
Saíram apenas cartas de Ar, o elemento que nos fala do pensamento, da razão, da comunicação e das nossas verdades. Talvez este seja um momento em que a razão voltada para a exterioridade, para a disseminação de ideias e a ação concreta potenciem uma realidade de conexão. As cartas ajudaram-me a manter o foco, a esperança e a motivação para lutar por um mundo melhor. Que a ação apoiada pela experiência de comunidade é a possibilidade de futuro. Espero que sintam o mesmo!
IMPORTANTE:
Eu ofereço estes artigos como forma de familiarização com as cartas do Tarot. Mas não deixam de ser interpretações gerais, para o coletivo. Por isso, não é possível determinar o impacto individual e ganham contornos mais abstratos.
Se quiserem compreender estas questões a um nível pessoal marquem uma consulta de TAROT ou de ASTAROT, comigo. Saibam mais neste link.
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Tiragem de junho
Valete de Espadas
Ás de Espadas
6 - Os Amantes
Baralho: Next World Tarot, Cristy C. Road.
Valete de Espadas
Ar | Gémeos, Balança, Aquário
Valete de Espadas é aquela carta que nos fala de um idealismo filosófico, de um pensamento arrojado, de uma vontade de propagar ideias pelo mundo. É uma figura de arrojo, insuflada pela coragem que a inocência nos oferece. É uma personagem que inicia uma jornada, ou melhor, que se prepara para levar a cabo essa viagem pelos espaços das ideias e ideologias; das verdades e justiças; das relações e partilhas. Valete de Espadas enverga uma espada (símbolo do pensamento e intelecto) que, de forma desafiante, corta com as estruturas de pensamento limitadoras e opressoras, libertando um novo caminho de possibilidades. Com o desafio característico das personagens jovens que têm muito para aprender mas que não se coíbem de desafiar o status quo(Valetes simbolizam a curiosidade e energia adolescente), Valete de Espadas, instiga-nos a abraçar essa atitude de questionamento e não aceitação de modelos e sistemas que não nos servem. Ao mesmo tempo questiona-se e questiona-nos: Qual a nossa verdade? Que valores nos impelem à ação? Pelo que é que vale a pena lutar? Estamos preparades?
Ás de Espadas
Ar | Gémeos, Balança, Aquário
Se aceitarmos o desafio de Valete de Espadas e seguirmos através do caminho aberto pela sua espada, encontramos a raíz (a radicalidade, a essência) da resposta àquelas perguntas. Ás fala-nos de um momento seminal. Já não é a preparação e o questionamento de Valete, é o momento da consciência das nossas razões e dos recursos que temos ao nosso dispor para continuar a desbravar caminho em direção a uma realidade mais justa (espadas é verdade, mas também é justiça). A espada multiplica-se em diversos tipos de lâminas para que possamos escolher aquelas que melhor nos auxiliam nos diferentes desafios desta jornada. Nunca é demais sublinhar, espadas é razão, pensamento, intelecto e comunicação. As melhores armas que temos para separar o “trigo do joio” são o conhecimento, o espírito crítico, a informação independente, o diálogo e as conexões que criamos. São estas as ferramentas que Ás de Espadas nos oferece para que as noções ações sejam equilibradas e justas e para que possamos viver, gritar e lutar pelas nossas verdades, ou seja segundo a nossa integridade. Mas, como Ar é um elemento de dispersão e conexão, estas verdades não são estanques nem únicas, são os valores que desenvolvemos através de ações de sociabilização e partilha de ideias, conhecimentos e experiências. A justiça das Espadas (e a carta 11 - A Justiça, que corresponde ao signo de Balança [elemento Ar] também enverga uma espada) é a justiça social. O Ás é a potencialidade dessa ação justa, é a nossa voz: o poder que desmantela desigualdades e injustiças.
6 – Os Amantes
Gémeos | Ar Duplo
Se com Valete iniciámos o questionamento e com o Ás encontrámos o princípio ativo da ação consciente, com Os Amantes somos confrontades com a complexidade da escolha. E, sobretudo, com a sua consequência. A carta não se refere apenas ao amor romântico ou à ligação afetiva entre pessoas, embora esses também estejam presentes. Fala, sobretudo, da escolha como compromisso ético. Que verdades queremos defender? Que mensagens queremos transmitir? Que ideias informam o nosso discurso e ação?
Os Amantes é a carta da conexão e da responsabilidade dessa ligação. Num tempo em que assistimos à instrumentalização do afeto, das palavras e até da ideia de liberdade, esta carta pede que pensemos o amor enquanto escolha racional: reconhecimento da alteridade, empatia, comunidade, apoio mútuo, compromisso. Os laços que criamos não são apenas pessoais, têm impacto político e social. As nossas escolhas, ainda que individuais, reverberam sobre quem nos rodeia.
Os Amantes convidam a uma reconsideração e reconstrução de sistemas de crenças próprios. Uma tomada de consciência sobre o que é importante e o que não é. Uma decisão em relação ao que vamos defender com convicção. É o momento em que deixamos de seguir a norma só porque ela existe. Em que nos tornamos mais fiéis a nós mesmes para que também possamos ser mais honestes nas relações que construímos. Gémeos, signo Duplo do elemento Ar, sublinha o papel da comunicação e da capacidade de adaptação neste processo. Comunicação que é conexão, mas também é discernimento. Como usamos as nossas “espadas”? Para defender? Para atacar? Para proteger? Para construir pontes ou reforçar divisões? A forma como escolhemos usar as palavras e as ideias que as sustentam é um reflexo da realidade que queremos criar.
Os Amantes propõem um caminho de abertura, de honestidade e de integração. Talvez, para caminhar pelo caminho libertado por Valete e para sermos capazes de utilizar de forma responsável os utensílios do Ás, seja reconhecermo-nos na alteridade, escolher com intenção quem somos e o que queremos sustentar no mundo.
O amor é escolha racional, o reconhecimento da alteridade, conexão, empatia, apoio, comunidade. É compromisso, parcerias, amizade e amor-próprio.
Neste mês, as cartas de Ar lembram-nos que a mudança começa no pensamento, mas só se concretiza através da escolha e da ação. A clareza, a comunicação e a integridade são as nossas ferramentas mais úteis. E a comunidade é o espaço onde estas ferramentas se unem para construir alternativas.
Escolher amar, com lucidez, com compromisso e com responsabilidade é um gesto profundamente radical. Talvez seja por isso que a última carta desta tiragem é Os Amantes: porque resistir, cuidar e imaginar alternativas à opressão exige uma confiança e vulnerabilidade. Que este mês nos traga diálogos honestos, pensamentos críticos e relações e ações comprometidas com a transformação coletiva.
Sugestões
Livro:
Freedom Is a Constant Struggle: Ferguson, Palestine, and the Foundations of a Movement, by Angela Davis
Canção:
"People Have the Power" – Patti Smith
Poema:
“We Teach Life” – Rafeef Ziadah
Filme:
I Am Not Your Negro (2016), directed by Raoul Peck
SØPHIA (Sandra)
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