2 de Espadas e Arya Stark (Game of Thrones)
Entre A Sacerdotisa, A Justiça e A Rainha de Espadas. A escolha e a integridade.
No Grupo de Estudo e Prática de Tarot, entre muitas outras coisas, temos 2 encontros mensais para a partilha de conhecimentos, experiências, dúvidas... mas de forma bem informal e descontraída! O 1º encontro deste mês será no dia 11 de julho (esta sexta), ainda dia de Lua Cheia em Capricórnio e a carta que saiu foi o arcano menor 2 de Espadas. Juntem-se a nós para ficarem a conhecer mais sobre estas cartas e outras sugestões!
O segundo encontro será dia 24 de julho (quarta), dia de Lua Nova em Leão e a carta que saiu foi o arcano menor Valete de Paus.
Nestes encontros, cada pessoa pode trazer uma canção, um livro, um filme, uma pintura... o que entender que ache que tem a ver com a carta. Também pode sugerir "prompts" de reflexão e colocar questões e dúvidas sobre a carta. Em conjunto, criamos um spread inspirado nas diversas contribuições e na lunação.
Então pensei que podia ser interessante partilhar um pouco sobre o 2 de Espadas e uma das sugestões que vou levar para o encontro: o treino de Arya Stark, uma das protagonistas de A Guerra dos Tronos.
O 2 de Espadas representa uma figura de olhos vendados, empunhando duas espadas cruzadas sobre o peito. A imagem ilustra a confiança no próprio intelecto, o equilíbrio mental e a necessidade de suspensão antes da ação.
Esta carta é regida pela Lua em Balança, invocando simbolicamente três arquétipos do Tarot:
A Sacerdotisa (Arcano Maior II – Lua)
A Justiça (Arcano Maior XI – Balança)
A Rainha de Espadas (Arcano Menor)
Sendo uma carta do elemento Ar e do número 2 (tal como A Sacerdotisa e A Justiça), o Dois de Espadas remete para: decisões justas, flexibilidade, ponderação, atenção e reflexão (2) e pensamento, razão, cognição, intelecto, comunicação, sociabilização, verdades e valores pessoais (Ar).
Na carta, a figura parece estar voluntariamente na posição em que se encontra, como se Este é um momento de "estágio" consciente: a figura escolhe deliberadamente um papel: a recusa dos estímulos exteriores, protegendo a sua vulnerabilidade e focando-se num equilíbrio entre o mental e o emocional, através da venda e cruzamento dos braços e espadas sobre o peito.
O gesto é performativo, quase teatral, como se estivesse num palco. Uma escolha que não será assim tão surpreendente, considerando que Pamela Colman Smith, criadora das ilustrações do baralho Rider-Waite-Smith, também era cenógrafa.
Essa postura e o facto de ter os olhos vendados, evoca um momento iniciático. E nesse sentido, faz eco no percurso de Arya Stark, durante o seu treino na House of Black and White, em Game of Thrones.
Durante a sua formação, Arya recebe a missão de recolher segredos (uma tarefa marcada pelos elementos da noite, da água e da Sacerdotisa). É também neste período que mata Dareon, um desertor da Patrulha da Noite. Pouco depois, bebe o leite que bebe todas as noites e acorda cega no dia seguinte. Arya age em nome de uma justiça interna, mas não autorizada, um instinto moral ainda ligado à sua antiga vida. Este ato precipita a sua cegueira, que é ao mesmo tempo castigo e rito iniciático.
Entretanto, Arya assume a identidade de "Beth", uma pedinte, e vagueia pelas ruas de Braavos a pedir esmola e a escutar conversas. Continua a sonhar através dos olhos da sua loba gigante, Nymeria, mas não conta isso a ninguém (A Sacerdotisa corresponde à Lua e a carta de A Lua, inclui a figura de um lobo e de um cão). Uma ligação ao inconsciente e à natureza instintiva, símbolos da Lua e da água. Aqui, o treino torna-se mais subtil: trata-se de ver sem depender do sentido visual, de captar o mundo pela atenção, pela intuição, pela sensação interior. Esta fase evoca A Sacerdotisa (o silêncio, o mistério, o acesso ao inconsciente) e, também, A Lua (ilusões, enganos, medos, sonhos e verdades ocultas).
Tal como a figura do 2 de Espadas, Arya fecha-se ao mundo exterior, adota uma postura silenciosa, introspetiva: o foco é virar-se para dentro e cultivar o discernimento. Mas, acima de tudo, demonstra que dominou a arte da espada interior: a clareza, a atenção, a vigilância, o uso justo das suas motivações e princípios. Este caminho é o que a conduz à Rainha de Espadas. A que sabe quando agir, que fala com precisão, que vê com lucidez, que equilibra a justiça com a compaixão e empatia. O treino de Arya, enquanto 2 de Espadas pode, assim, representar um momento, incorporando o exemplo da A Sacerdotisa e de A Justiça, de treino e reflexão para se tornar a Rainha de Espadas: justa, com clareza mental assente na harmonia e equilíbrio com o seu instinto e sabedoria interior. Com assertividade mas sem demasiada rigidez, com alguma empatia e recetividade, mas confiante e determinada.
Tal como a água que se encontra no naipe de cálices, a água aqui representa o subconsciente. Desprovida de visão, a figura precisa de confiar num intelecto enraizado que não deixa de escutar a sua intuição e sabedoria interior, emocional.
E essa atenção que o 2 de Espadas pede para darmos às cartas A Sacerdotisa e A Justiça convoca questões como:
Que decisões são realmente justas?
Como compreendemos o que é a verdade e a justiça para nós?
Onde reside a nossa integridade?
Lane Smith, em 78 Acts of Liberation: Tarot to Transform Our World, relaciona o 2 de Espadas com o conceito de interseccionalidade e parece-me uma excelente forma de pensar sobre esta carta:
Intersectionality refuses the insistence that we only have binary choices available to us; instead, it acknowledges that we have to consider all parts of ourselves in order to be honest with ourselves. Having integrity means knowing our full selves, in denial about nothing.
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